terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A moda do "do contra"

Durante mto tempo, se camuflar foi um metodo de sobrevivencia.
Quando adolescentes, queriamos ser igual a todo mundo pra nao sermos vitimas de bullying no colegio e ser motivo de chacota. Por mais que vc nao fizesse parte do grupo dos "populares e desejados" (a versao cheerleaders et quarterbacks dos filmes americanos), voce certamente se vestia e se comportava como seus amigos goticos, hippies ou nerds. Afinal, em grupinhos era mto mais facil se defender dos predadores (os mesmo cheerleaders e quarterbacks).
De uns tempos pra ca, numa era em que Lady Gaga e Nicki Minaj sao noticia, tenho reparado uma inversao total dessa onda.
Se antes "ser diferente" era razao pra ser sacaneado e isolado, hoje em dia ser parecido ou igual é crime digno de pena de morte por apedrejamento, voce tendo 15 ou 30 anos.
Veja bem, nada contra quem quer ser totalmente diferente. Acho mais que cada um tem que assumir sua propria personalidade e ser feliz escutando Bjork ou Angra, gostando das obras da Louise Bourgeois, tendo "Le bruit des glaçons" como filme predileto, ou achando que os livros do Garcia Marquez sao realmente geniais.
O problema é que ser humano, principalmente brasileiro, nao sabe o que é meio-termo. Reclama de intolerancia mas é o primeiro a se indignar quando alguem fala que assiste big brother. E do tipo "xinga minha mae de p***, chuta meu cachorro, mas nao me diz que voce assiste big brother". Gostar de algo popular virou um insulto.
Algumas situacoes onde os intolerados viram os intolerantes:
Religiao:
Ser ateu virou moda.
Lembro de quando wicca era o novo black da religiao (ate eu me interessei, mea culpa) ou quando todo mundo queria ser budista ou espirita (o tanto de "eu converso com espiritos, sabe" que eu ouvi nessa epoca nao ta escrito).
Agora o negocio é ser ateu e espalhar por ai que acreditar em Deus é coisa de gente estupida.
Veja bem, eu sou aquela catolica extremamente-nao-praticante (a ultima vez que fui na missa foi na pascoa de 2009, e so pq eu queria ver os cantos gregorianos na Nossa Senhora de Paris, vulgo Notre Dame) e nem sei direito no que eu acredito. Acho mais que se tua religiao (ou ausencia dela) te conforta e te traz a paz de espirito que tu precisa, voce pode acreditar no Papai Noel, em Sheeva, no monstro do lago Ness ou no homem do saco, que pra mim ta otimo.
Acho que essa modinha comecou por causa dos evangelicos. Eles comecaram a aporrinhar tanto as pessoas com "voce PRECISA se converter e acreditar em Deus e ir a igreja e nao pecar", que um monte de gente decidiu bater de frente so de odio. Ou seja, virou um "eu nao acredito em Deus por nenhum motivo especifico, e so pra chocar os evangelicos que ficam me aporrinhando". E acabam caindo no pior lado de toda religiao (ou ausencia dela): o extremismo.
Extremismo é ruim seja voce um muculmano pronto pra se explodir em pedacos por Alah, um evangelico que acha que o mundo ta cheio de pecadores, e tambem um ateu que acha que uma pessoa é um completo imbecil so por ser cristao (ou judeu, ou whatever) e parte pro desrespeito com a crenca alheia.
Ateu fanatico é aquele que so de ver um "achei um emprego, obrigada, meu Deus" de um amigo no facebook, ja acha que o amigo ta pregando e querendo empurrar sua religiao goela abaixo.
Menos, gente. Bom dia, tolerancia.
Musica:
Olha, eu tenho meu lado rafinado, que se amarra numa opéra (Nina Stemme, I love you), que se emociona ouvindo Tchaikovsky (principalmente a trilha de Swam Lake) e que sempre quis aprender a tocar violino. Tenho meu lado decente, que adora Izia, The Clash, Gotye, e que e absolutamente apaixonada por Chris Cornell (marry meeeee!!!).
E assumo numa boa que tenho meu lado "cheesy" e tosco, que passa noites ouvindo Christophe Maé no repeat eterno (dingue, dingue, dingue!), que sabe a letra inteira do "ça m'énerve" do Helmut Fritz, que nao consegue ficar parada quando comeca o "ua ua ua ua ua" do Bad Romance da Lady Gaga ou que foi no show do Michel Telo esse domingo e dancou a coreografia inteira cantando aos berros o "Ai se eu te pego". Me processe. Nao me acho mais burra por causa disso.
Por exemplo, o quanto falaram do tal do Restart.
Sim, eu acho a musica uma bosta. E sim, eu acho que a juventude atual ta perdida, mas nao por causa disso.
Vejam por exemplo a musica que eu mais gostava e escutava ad infinitum quando eu tinha 14, 15 anos (idade do publico do famigerado Restart):



10 anos depois (cof, cof, 14, cof), eu to aqui, com meu gosto musical mudado, com todos os neuronios da cabeca, falando 3 linguas e com um diploma de mestrado no exterior embaixo do braco.
Deixem as adolescentes gostarem das musicas toscas delas em paz. Uma hora isso passa e elas vao ter vergonha quando lembrarem do passado musical (apesar de que, Taylor, continuo te pegando facil!). Aposto que tem muita gente que fala que curte Metallica e usa camiseta do Black Sabbath so pra parecer cool, mas no fundo ouviria Britney Spears e Luan Santana ate o final dos dias.
Eu entendo o argumento de que muitos artistas toscos sem talento tao ae ganhando milhoes enquanto musicos realmente talentosos e que estudaram anos pra tocar o que tocam dependem de ajuda do governo ou de um patrocinio miseravel.
Mas se for assim, entao vamos nos revoltar com os jogadores de futebol que mal sabem conjugar um verbo ganhando 300 mil euros por mes (veja bem, o unico talento dele é saber chutar uma bola pra frente direito), enquanto um professor ganha 1.400 reais. Vamos nos revoltar com politicos que nao sabem nem escrever direito (I'm looking at you, Tiririca) ganham 20.000 reais por mes, enquanto voce ae que tem faculdade e passou no exame da OAB termina o mes no negativo. Com funkeira que tem uma renda mensal de cinco digitos cantando "quero te dar" e rebolando uma bunda do tamanho da orbita de Urano, enquanto gente que estudou violoncelo a vida toda tem que tocar no metro pra ganhar umas moedinhas.
Injustica monetaria ta em qualquer setor de atividade. Vamos nos revoltar com todos e acabar com o entretenimento barato entao.
Carnaval:
Outra nova modinha é odiar Carnaval.
Eu pessoalmente gosto daqueles carnavais, mas das antiga, com marchinha e blocos no melhor estilo Bananal ou Sao Luiz do Paraitinga. Mas nada contra quem gosta de se acotovelar na muvuca em Salvador pulando "peperepepe pe pe", ou contra quem prefere ficar em casa nao fazendo absolutamente nada.
Mas agora o pessoal tem falando de Carnaval como se fosse o unico mau do Brasil. Como se o pais fosse essa zona que é, so porque durante uma semana no ano, temos o habito de desfilar num corredor semi-nus, cheio de glitter e penas.
Agora, gostar de um feriadinho, todo mundo gosta ne?
Se quisessem acabar com o carnaval, todo mundo ia se rebelar, nao pelo lado cultural, mas pela perca dos dois dias e meio de folga em fevereiro.
Bem ou mal, isso é uma coisa intriseca a cultura brasileira, e se tem uma coisa que qualquer gringo no mundo inveja, é o fato de nao ter um carnaval como o nosso no pais deles. 90% das pessoas que eu conheci desde que mudei pro exterior em 2009 sempre me falam que sonham em ir no Carnaval do Rio.
Entao, como eu disse antes, vamos nos revoltar com a qualidade da educacao e da saude publica no Brasil, vamos nos revoltar com os impostos que voce paga e nao tem retorno algum.
O fato de um monte de gente semi-nua cheia de glitter e penacho sambando uma semana no ano nao torna a situacao nem melhor nem pior.
Foco, gente, foco.
A razao de todas as desgracas brasileiras.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sobre as desculpas

Se tem uma coisa que todo ser humano vai fazer pelo menos uma vez na vida, é inventar uma desculpa.
Seja pra chegar atrasado no trabalho, falando que um caminhão tombou na périphérique entao ninguém ia nem pra frente nem pra tras.
Seja pra cancelar aquele happy hour com os amigos, falando que vai ter que trabalhar até tarde, porque na verdade tudo o que você quer é ir no cinema sozinho assistir Melancholia.
Seja pra pensar "mas é o aniversario do Fulano...", pra se dar o direito de comer aquele pedaço XXL de bolo de chocolate com cobertura cremosa.

Uma das situaçoes que mais envolvem a criaçao de desculpas sao as relaçoes amorosas. Seja para terminar uma, seja pra nem sequer começar uma.
Se formos calcular empiricamente, 90% das relaçoes nem sequer começam porque o cara nao quer. Nesses casos, o modus operandi ou vai ser a basica desculpa "eu nao estou pronto pra um relacionamento sério nesse momento", ou ele simplesmente desaparecer do mapa (minha tatica pessoal predileta). Anyway, até livros e filmes ja foram lançados abordando as desculpas infames masculinas pra fugir de um famigerado namoro.
Porém, em algumas raras ocasioes no universo, quem nao quer nada sério é a madame. E nessa hora, o "ele simplesmente nao esta afim de você" vira um "ele simplesmente nao conseguiu te conquistar".
E nessas horas, as mulheres fazem algumas pequenas modificaçoes nas desculpas de praxe, e mandam um dos basicos discursos de meia tigela, no que poderiamos chamar de uma espécie de vingança cosmica:

"Eu tenho muita coisa acontecendo na minha vida nesse momento"

Quando os homens falam isso, isso sempre se limita à stress no trabalho e "o clima ta pesado com o divorcio dos meus pais". Bem, quando as mulheres falam isso, a coisa é bem mais rocambolesca, afinal stress no trabalho e clima pesado em casa é too few to deal with, entao a coisa ainda envolve a melhor amiga que foi largada pelo namorado depois que engravidou, a manicure que levou um calote do irmão, o câncer daquele tio que ela adora e aquele filhotinho de vira lata que ela achou mau-tratado na rua.

"Eu nao estou pronta pra um relacionamento sério"

A nao ser que a moça tenha acabado de sair de um casamento de 15 anos ou tenha acabado de entrar na faculdade, toda mulher gosta de namorar sério (o que nao significa que a gente seja infeliz quando solteira, como ja divaguei aqui em outro post, vamos deixar claro). Entao, quando uma mulher te falar isso, saiba : ela nao quer um relacionamento sério mesmo... com VOCE. O problema é você.

A preferida de 9 entre 10 mulheres : "Eu ainda estou apaixonada pelo meu ex" . E eis a razao :

Lembro de uma vez quando eu tava filosofando sobre relaçoes amorosas com uma amiga uns 20 anos mais velha que eu, e ela me disse uma frase simples but true: "juliana, ex é para sempre". Nao importa se a relaçao terminou bem ou mal, nada apaga o tempo em que vocês foram um casal e nada apaga o fato de que, por pelo menos alguns meses ou por varios anos, você foi louca por aquele cara. Por isso, na maioria das vezes, a mulher demora pra se desligar do ex mesmo. Ainda mais se ele faz o favor de te enviar um DVD do Lago dos Cisnes pelo teu aniversario, mostrando que ele ainda lembra que você gosta de ballet.
Entao, mesmo quando conseguimos virar a pagina, o proximo cara com quem começamos a sair tem uma dura tarefa da qual ele nem sequer esta ciente : ser melhor que o ex. Nao (necessariamente) melhor no sentido de mais rico, mais bonito ou mais inteligente, mas ele tem que te fazer se sentir mais entusiasmada e com mais 'butterflies in the stomach" do que seu ex te fez sentir no começo. Nao existe uma formula magica pra isso (mesmo se algumas dicas sao sempre validas), e se depois de algumas semanas juntos, a garota nao começa a querer te ver todo dia, e na maioria das vezes prefere ir no supermercado do que sair com você, nao vai demorar muito pra ela lançar a infame "eu ainda estou apaixonada pelo meu ex". Isso pode até ser verdade e a moçoila ainda pode estar suspirando por seu antigo principe encantado, mas na maioria das vezes, isso na realidade quer dizer que você apenas nao conseguiu despertar nela aquela paixao e aquele frisson que o ultimo namorado dela despertou.

Tudo isso pra chegar à mesma conclusao que todos os filmes e livros no estilo do "ele simplesmente nao esta afim de você" falam, tanto pra homens quanto pra mulheres : se a outra pessoa se apaixonou, nao importa o quão inoportuno seja o momento, nem o quão dificil seja o momento pelo qual ela ta passando : ela vai ficar feliz de você ter entrado na sua vida, e que vai adorar e fazer de tudo pra que você continue nela.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A vida em coloc

Como ja é sabido, Paris tem um dos niveis de aluguel mais caros do sistema solar, juntamente com cidades japonesas e Londres. Aposto que um flat mobiliado nos anéis de Saturno, com vista para Jupiter, é mais barato.
Tudo isso se deve à simples lei da oferta e da procura. Milhares de pessoas procuram um lar, pra pouco apartamento.

E com tanta gente procurando, além dos preços, as exigencias dos proprietarios também sao exorbitantes. Pra alugar um mero studiozinho de 20 metros quadrados mesmo numa area 'legalzinha' tipo porte de clignancourt, você precisa de dois fiadores na europa, que tenham um salario 3 vezes maior que o aluguel, e você mesmo precisa ter um CDI (contrato por tempo indeterminado, ou o equivalente do "carteira assinada" do brasil) por mais de 3 meses, com um salario igualmente três vezes maior que o aluguel...
E mesmo assim, é inacreditavel o quanto as pessoas ainda tem de se matar pra conseguir um muquifinho dentro da périphérique.
Logo, pra estudantes sem CDI e sem fiadores europeus tipo eu, as chances de alugar algo meu beiram à chance do impossivel-nem-a-pau-vai-sonhando-ta-achando-o-quê-da-vida.
A unica coisa que sobra sao as igualmente disputadas colocaçoes.
Uma pessoa, que nao quer morar num studiozinho minusculo, aluga um apê grande, pra dividir com outras pessoas, e todo mundo racha o aluguel. Ou alguém é dono de um apê, e tendo um quarto extra, resolve aluga-lo pra ter uma renda extra. Tudo isso é ilegal, feito por baixo dos panos, mas é o que salva pessoas tipo eu de morar debaixo da ponte ou nos corredores do métro.

E se morar com amigos pode ser complicado, morar com estranhos entao é mais ainda. Mas honestamente, nesses dois anos e meio de vida "em comum" com estranhos, eu nao tenho do que reclamar. Tirando o tiozinho (que eu vou falar logo mais), eu nao tenho do que reclamar dos meus colocatarios, inclusive fiz amigos queridos à partir dai. Ouço tanta historia bizarra sobre colocaçoes, que acho que eu tenho sorte. Mas isso nao nos impede de passar por pequenas situaçoes bizarras ou no minimo engraçadas :

A escova compartilhada : a idéia desse post veio quando hoje de manha eu fui escovar os dentes depois do café da manha e nao achei minha escova azul. Imaginei que minha coloc tinha jogado ela fora por engano, mas nao tinha nada no lixo.
Sabendo que o namorado dela tinha dormido la aquela noite e que agora so haviam duas escovas rosas no copinho, deduzi que o cara, nao sabendo qual era a escova dele, deduziu o obvio "rosa-menina e azul-menino" e usou minha escova. Quando a coloc acordou, perguntei como quem nao quer nada se ela nao sabia da minha escova, ela disse que nao mas começou a olhar nas coisas dela. Eis que ela acha a escova, começa a rir e deduz a mesma coisa que eu : o namorado tinha usado minha escova. Ela pediu novecentas mil desculpas e prometeu comprar uma escova nova hoje mesmo. Na verdade, eu nem estressei, so queria que ele ficasse ciente da nojeira mesmo hahaha. A vida em comum tem disso.

A geladeira multi-étnica : quando morei na chinatown parisiense, dividia o apê com uma africana e uma chinesa. Nossa geladeira era a coisa mais flagrante da nossa diferença cultural. Acho que as unicas coisas em comum entre as nossas prateleiras eram coisas tipo manteiga ou ovos. Lembro que um dia abri a geladeira toda serelepe, e vejo uma cabeça de peixe me olhando na prateleira da africana. Sim, uma cabeça de peixe, com olhinhos, dentinhos e tudo. Ja fiquei achando que minha coloc era uma macumbeira, e ja pensei em encomendar alguns despachos. Mas eis que um dia chego em casa, e ela ta fritando umas bananas-da-terra (que ela adorava e comia dia sim dia nao) e cozinhando a cabeça de peixe com uns temperos, que ELA COMEU DE COLHER, com olhinhos, dentinhos e tudo.
Juro que fiquei com o estomago revirado uns 2 dias. E sem meus despachos.

O tiozinho sem-noçao : no primeiro apê que morei, tinha uma coloc italiana gente-finissima, que virou uma amiga querida. Mas quando ela teve que voltar pra bergamo, a proprietaria do apê (que nao morava la) decidiu que estava "cansada desses jovens" e resolveu colocar um cara de uns 50 anos pra morar no quarto da italiana. O que leva um cara de 50 anos a se submeter a morar em colocaçao e nao ter seu proprio espaço, eu nunca vou saber.
A questao é que o tiozinho era um pé-no-saco. Ele tinha que dormir as 9 da noite, ja que acordava as 4 e meia pra trabalhar, entao ligava sempre pra proprietaria pra reclamar que eu estava "andando" demais pela casa depois das 9. Veja bem, eu nem sequer escutava musica sem fones, mas deixar de ir no banheiro fazer xixi ou preparar um cha porque a vossa majestade pode acordar com os meus passos, ja é demais. Sem falar que se eu deixasse uma caneca pra lavar mais tarde na pia, ele ja ligava pra proprietaria falando que eu era uma porca. UMA fucking caneca.
Anyway, acho que é por causa disso que ele "adquiriu" um novo habito agradavel : tomar banho de porta aberta. E eu tendo que passar em frente ao banheiro pra ir pro meu quarto, tinha que fazer uns movimentos ninjas pra nao ter nenhuma visao do inferno. Nariz empinado como sou, nao me dei por vencida e nao liguei pra proprietaria pra reclamar. Me fiz de indiferente. No entanto, um dia, uma neta da proprietaria veio passar uns dias em Paris e ia ficar no sofa da sala do apartamento. Ela teve a infelicidade de chegar justo quando o senhorzinho tava tomando banho de porta aberta, e ligou imediatamente pra avo reclamando do homem, que recebeu um ultimato para abandonar o apartamento até o final do mês, ja que "ele nao sabia conviver com outras pessoas". Lembro de so ter pensado duas palavras : ha ha.

O cambrioleur : na vida em coloc, é comum sempre avisar quando você receber uma visita, pelo simples respeito e pra que ninguém cruze outra pessoa em casa e pense "quem raios é vc?". Logico que uma vez ou outra, você esquece.
Um dia, no apartamento em chinatown, sai linda leve e loira do meu quarto pra ir tomar banho, quando me deparo com um negão 3x4 no corredor. Lembro de ter ficado petrificada, achando que era um ladrao que invadiu o apê, e fiquei olhando em volta qual era o objeto mais pesado ou cortante que eu poderia jogar naquele armario e me arrependendo de nao ter feitos aulas de krav maga. Estranhamente, ele também me olhava meio nao entendendo o que se passava. Eis que a africana (igualmente 3x4) sai do quarto dela, e percebendo nossas caras incrédulas, se apressou em me dizer que aquele era o namorado dela, que ia passar uma semana la, e se desculpou por ter esquecido de me avisar.
Acho que nunca senti tanto alivio na minha vida.

A chef de cuisine : quando fui burguesa e morei no 16ème, dividia o apê com um rapaz. Ele era aquela tipica pessoa que nao fazia uma virgula na cozinha, e so comia coisa congelada. Um dia, preparei um risoto de champignon (tipo, cozinhando os champignons, o arroz, etc...), e como sobrou, comentei que se ele quisesse comer, poderia se servir. Ele experimentou e olha, acho que nunca recebi tantos elogios culinarios na vida. Outra vez, preparei um strogonoff quando o ex marroquino veio jantar em casa, e também ofereci pro coloc. O rapaz ficou maravilhado, dizendo que nunca tinha comido algo tao bom na vida.
Mesmo sabendo que tudo isso era so pq o paladar dele tava comprometido com tanta comida congelada, confesso que fiquei me achando "A" chef de cuisine.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sobre a amizade entre homem e mulher

Parece que esse assunto anda meio recorrente nos meus circulos de amizade ultimamente : é possivel um homem e uma mulher serem amigos, apenas bons amigos?

Ja vi muito homem falando que não, que na verdade, homem so se finge de amigo pra ter a oportunidade de comer a mina (pra usar os mesmos termos que eu escutei).
Na realidade, eu acho possivel, sim.
Porém, acho isso muito mais dificil e raro.

Nao estou falando de todos os espécimes machos dos circulos de amizades, mas daquele circulo exclusivo de pouquissimas pessoas : os melhores amigos. Que você fala praticamente todo dia, sabe da vida absolutamente inteira da pessoa e podem, por exemplo, sair pra uma cerveja eventualmente somente os dois, sem necessariamente estar "de galera".
Como fazer essas coisas, sem misturar os sentimentos? Afinal, sendo um homem e uma mulher, nada mais natural que uma paixão e uma atraçao, quiça um amor, acabe nascendo.
E como todo mundo sabe, se um sentimento do tipo acaba parecendo, mas um dos dois nao compartilha do mesmo sentimento, o fim daquela bela amizade é certo (situaçao bizarra pela qual passei recentemente). Ou o pior pode acontecer também : os dois compartilham do mesmo sentimento e a coisa vira namoro... mas todo mundo sabe que amigo é amigo, e namorado é namorado. Nao nos comportamos da mesma forma com um amigo do que com um namorado (ainda mais no que diz respeito à ciumes, conhecimento do historico amoroso e tolerância aos defeitos), e pra relaçao azedar, nao é mto dificil.

Entao, como atingir aquele ponto exato de amizade profunda, de intimidade, sem acabar caindo na zona do amor?
Algumas raras porém fantasticas ocasioes na vida, tive (e tenho atualmente) a oportunidade de ter um melhor amigo homem. Nao nos envolvemos sentimentalmente, mas tinhamos uma intimidade otima, e era sensacional ter o ponto de vista masculino pra varias questoes cruciais na vida, como "devo mudar de emprego?", ou "qual carro devo comprar?" ou "como faço pra esse cara largar do meu pé?" ou "os caras realmente preferem mulheres com mais carninha, pra ter onde pegar, ou isso é so lenda urbana pra consolar pessoas como eu?".

Alguns desses melhores amigos homens no passado também me mostraram que é possivel sim, um cara se apaixonar como nunca por uma mulher e sofrer como nunca por amor. Coisa que do alto do meu feminismo, sempre acho meio impossivel.

Por outro lado, nao suporto mulher que diz que so tem melhores amigos homens porque mulheres sao falsas, invejosas, etc etc. Veja bem, nos circulos de amizades supra-citados (ai que termo chique!), a maioria é homem mesmo, mas nao pq eu tenho fobia à amizades femininas, e sim por questao de afinidade de conversas (nao, eu nao converso sobre futebol, UFC e carros). A maioria dos melhores amigos que tenho e tive foram mulheres, e eu nao seria a mesma sem elas, nem abriria mão delas por homem nenhum que fosse. Tenho pena de quem acha que todas as amigas sao falsas e invejosas, e nao pode fazer uma sessão "futilidade level advanced" em casa, com hidrataçao de cabelo + vinho + fofocas de celebridades (e antes que os homens critiquem, lembrem-se que o seu futebol+cervejinha de quarta feira com os amigos é tao inutil pra humanidade quanto). Tenho pena de quem nao pode ligar pra uma amiga pra chorar e xingar aquele imbecil que acabou de lhe dar um pé na bunda, por achar que a amiga na verdade vai é ficar feliz com a sua desgraça, ou nao pode ligar pra dizer que teve um lindo jantar romantico com um cara gato, por achar que sua amiga vai fazer macumba na encruzilhada pra que tudo dê errado. Bom dia, paranoia!

Mas também tenho pena daqueles caras que acham impossivel essa "amizade mista", e acham que so vale a pena sair pra tomar um café ou ir no cinema com uma mulher se você quiser leva-la pra cama depois. Um ponto de vista feminino sincero e imparcial (coisa impossivel quando o exemplar feminino em questao é sua namorada) pode mudar pra melhor muitas coisas na vida de um cara.

Desconheço a formula magica que torna possivel uma mulher e um homem serem "apenas" melhores amigos, mas se conhecesse, com certeza faria com que ela acontecesse mais vezes.


http://www.venenocorderosa.com/blog/wp-content/uploads/2011/04/AMIZADE_HOMEM_MULHER_2-300x259.jpg
Apenas bons amigos??
Sim!


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sobre o moralismo virtual

Inegavel o fato de que a internet facilitou a nossa vida. Consigo nem mais imaginar minha vida sem Google.
Se antigamente pra achar um emprego as pessoas tinham que encher uma pasta de curriculos e bater perna por ai entregando, hoje um simples "responsable marketing" no monster.fr ja te mostra diversas vagas.
Se antigamente quem morava no exterior falava com a familia uma vez a cada dois meses, rapidinho porque o telefone custa uma bica, hoje posso me deliciar horas e horas vendo minha familia querida através do skype.
Se ontem eu tinha simplesmente que aceitar a programaçao da TV, hoje eu escolho exatamente o que vou assistir graças às maravilhas dos downloads e do you tube.

Mas se a internet facilitou a vida, ela também nos deixou muito mais preguiçosos e hipocritas.
O exemplo mais flagrante disso sao as redes sociais.
Graças ao titio facebook e msn, toda a sua rede de contatos esta ligada. Você sabe em tempo real se seu amigo arranjou um novo emprego, uma nova namorada ou se saiu da dieta, com um comentario "comendo um xis bacon egg salada com onion rings no Outback".
Mas o pior de tudo isso é o moralismo. Quem ai nunca viu um comentario no facebook tipo "deixe essa mensagem no seu mural por uma hora caso você apoie as pessoas com cancer" ou "veja aqui lista dos deputados que querem dobrar seus salarios" ou "homofobia é crime, e bla bla bla..."??

E aquela cretinice que rola entre a mulherada, de colocar mensagens misteriosas tipo "35 polegadas" ou "em cima da cômoda", so pra despertar a curiosidade alheia? Essas mensagens misteriosas dizem respeito à "conscientizaçao sobre o cancer de mama", e bla bla bla... Agora me pergunto : o que colocar "38 polegadas" no facebook ajuda no cancer de mama??? Você faz doaçoes pra ajudar nas pesquisas?? Você ao menos faz o auto-exame com frêquencia? Entao nao me vem com churumelice.

Até ai, acho linda essa conscientizaçao toda, afinal a gente tem que começar por algum ponto. E tem algumas (rarissimas) campanhas que realmente tem algum efeito.
Mas na maioria das vezes, parece que o povo esquece que a vida se faz na realidade e nao na timeline do facebook. E na hora de levantar a bundinha linda da cadeira, o movimento perde força. Vereadores querendo aumentar seus salarios em 80%??? UM ABSURDO, AQUELES CANALHAS!!! VOU XINGAR MUITO NO TWITTER!!! ...Protestar contra esse aumento domingo à tarde debaixo do sol??... Mas vai ter jogo do curintia... (ou insira aqui o nome do seu time)
De nada adianta botar uma frase linda contra a homofobia no facebook, e quando vê dois homens ou duas mulheres de mao dada dando um selinho no métro, fica olhando com o ar mais espantado do mundo, como se aquelas pessoas fossem alienigenas.
De nada adianta botar uma frase linda sobre o respeito às mulheres, e quando vê uma mulher bonita num cargo de diretoria, faz um comentario tipo "Ra, com certeza ela deu pro presidente!"
De nada adianta botar uma frase linda falando sobre a fome da Africa, mas nao doar 10 euros que sejam pra ajudar a combater isso.

Lembro do bafafa que foi ano passado quando o #ForaSarney dominou o twitter. Milhoes e milhoes de mensagens com a tag, falando sobre os absurdos do politico, todo mundo se sentindo super engajado.
E na realidade, alguma grande passeata aconteceu? O que você fez de fato sobre isso, na vida real??
Pois o tempo passou, os trendings topics sao outros. E semana passada foi descoberto que Sarney usou helicoptero publico pra ir para a sua ilha particular (pois é, e você ai dividindo uma quitinete com 14 amigos pra passar o final de semana em Ubatuba), e que tem um salario de mais de 60 mil reais.
Uau, super eficazes essas campanhas pelo twitter hein????

Graças a Deus que na época do Diretas Ja nao existia internet, senao era capaz de até hoje ainda nao termos direito de votar no nosso presidente.

As pessoas colocam isso nas suas timelines pra parecem engajadas, responsaveis e menos burras.
Isso acalma a consciencia delas, e nada mais motivante pra nao reagir à nada e continuar na inércia do que uma consciencia tranquila.
E de fato, eles se sentem super engajadas colocando "repasse essa mensagem se você também é a favor do combate à Aids".
Como se né, a AIDS vai ser combatida so pq vc falou isso.
Ou como se ela deixasse de ser combatida, so por eu achar essa coisa de "cole no seu mural" de uma cretinice sem igual, e nao repasso "o meu apoio ao combate à AIDS" no facebook.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

"Oh, t'as un accent, tu viens d'où?"

95% das conversas mais longas que eu tenho com pessoas que eu nao conheço (até entao, pelo menos) começam assim.
Seja quando um amigo te apresenta à alguém, ou alguém te pergunta que horas são no ponto de onibus, seja quando um funcionario novo chega pra almoçar com o teu grupo na mesa da cantina do trabalho. A gente troca umas duas frases, e a pessoa, percebendo que você tem um sotaque que nao condiz com nenhuma região da França, lança a famosa "ah, você tem um sotaque, você vem de aonde?" ou com a variaçao "você é de qual origem?".

Ok, normal essa curiosidade, até porque eu nao tenho la a cara mais brasileira do universo,e reza a lenda que meu sotaque falando francês "nao é tipico de lugar nenhum, uma coisa meio unica" (ainda nao decidi se isso é uma coisa boa ou ruim). Mas depois de dois anos e meio, essa pergunta começa a encher o saco.
Nao pela pergunta em si, afinal, como eu disse, o ser humano é curioso, normal, e eu nao ligo de ter que repetir novecentas e doze vezes "Brésil".
O problema é pra onde a conversa vai depois. Das três uma : ou a pessoa vai comentar que eu nao tenho cara de brasileira (ah, se eu recebesse um euro pra cada vez que eu escuto isso...), e sim de alguém dos paises de Leste ou Russia ou Alemanha, e vai perguntar qual é a minha "real" origem, pra eu ser assim loira de olho azul, e quando eu falo "Alemanha", ela faz aquela cara de "aaaah, é por isso", como se minhas raizes brasileiras nao adiantassem de nada na minha personalidade. OU : a pessoa vai comentar que ja foi pro Brasil, e me contar tooooda a viagem dela. O que eu nao ligaria uma vez ou outra. Mas la pela décima vez que você escuta neguinho contando de viagem pra Foz da Iguaçu, ou de como ele achou maravilhosa a Amazonia (a.k.a. monte de mato), isso começa a encher. Se nao for isso, ela vai comentar que um amigo ja foi pro Brasil, foi assaltado no calçadao de Copacabana e jurou nunca mais botar os pés la. OU o mais frequente : ele vai lançar alguma dessas palavras :

"samba", "futebol", "caipirinha" ou "string" (a.k.a fio-dental).

Pois é.
A vontade de fugir desse tipo de conversa é tanta, que juro que quando perguntada sobre as minhas origens, ja respondi uns paises que nunca levam à conversas posteriores, tipo "Coréia do Norte" ou "Mali" ou "Guatemala". The world is my backyard.

Little habits

Como eu prefiro ser "aquela metamorfose ambulante", esses anos de França mudaram alguns habitos da minha pessoa, de forma que eu nem lembre como a vida era antes. Algumas mudanças foram pra bem, outras pra mal, outras indiferentes, mas nao deixam de ser mudanças.

Escovar os dentes depois do almoço :
A maioria dos amigos brasileiros que moram na zoropa contam que continuam indo religiosamente escovar os dentes depois do almoço no trabalho, apesar dos olhares chocados dos colegas de trabalho europeus. Bato palmas e invejo todos, porque eu ja desencanei disso faz tempo. Francesada nao faz isso é jamais, e eu acabei entrando na onda. Nao é bonito, eu sei, e bem que gostaria de voltar aos velhos habitos, mas atualmente volto do almoço direto pra trabalhar normalzona o restante da tarde. So nao contem pra minha dentista. Juro que continuo escovando meus dentes bonitinho depois das outras refeiçoes.

Esperar meu troco de 3 centavos :
Normal no Brasil é arredondar as contas. $12, 72 viram $12,70 ou $12,75. Até uns 10 centavos, a gente sempre releva. Aqui pode ser um misero centavo que ninguém deixa quieto. Tanto peguei habito que sempre fico esperando meu troco de poucos centavos, mesmo que eu deteste encher minha carteira de moedinhas minusculas. O troco é meu e pronto. Nem acredito que passei tanto tempo no Brasil deixando quieto o troco de poucos centavos.

Pagar o transporte publico por mês :
Com meu pass Navigo querido (ou pass Bibus quando eu morava naquele fim de mundo de Brest), eu pago uma mensualidade e uso o trem, métro e onibus quantas vezes me der na telha. Ta certo que nao é laaaa mto barato (pra Paris e banlieues coladas, sao 60 pila que morrem todo mês), mas acho um grande incentivo a usar o transporte publico. Isso de pagar o transporte pelo bilhete unico por every single time que você o usa me parece CARO, mto caro (logico, se isso for algo rotineiro, e nao de quem tem carro e usa o onibus tipo duas vezes por semana).

Ser sua propria manicure/depiladora :
Ja disse aqui o quanto essas coisas estéticas na França (quiça na Europa toda) custam os dois zoio da cara. Logo, aprender a tirar sua propria cuticula, pintar e tirar o esmalte sozinha, assim como meter a cera quente e puxar sem pensar duas vezes na sua propria e querida pele é mais do que uma opçao : é uma obrigaçao. Saudade dos tempos em que 15 conto em meia-hora deixavam meus pés e mãos lindos, e 30 conto deixavam minhas pernas e virilhas lisinhas...

Escada, minha melhor amiga :
Monte de prédio antigo pela cidade toda, entao né, existência de elevador é meio raro. Tem uns que até conseguem adaptar e meter um elevador minusculo num canto, mas na maioria dos prédios (tipo o meu) isso é fisicamente impossivelmente. Morar no terceiro andar e descer e subir as escadas umas 3 vezes por dia vira habito, e quando você chega pra visitar um amigo, e vê que tem elevador no prédio dele, até acha aquilo meio bizarro...

Tio, o que é isso?